Ramo Seco

(No álbum de uma Senhora Brasileira)

I

No pais doce de Cabra! nascida.
Afeita àquela eterna primavera
Que perpetua a vida
Na folhagem vivaz que não se altera,
Nem conhece as fadigas e a pobreza
De nossa lenta e velha natureza,
Porque, filha mimosa
Da Atlântida formosa,
Porque tão tarde vens, nos tristes dias
De nosso feio Inverno,
Visitar estas praias tão sombrias,
Estas devesas hórridas e frias,
Só povoadas pelo gelo eterno?

II

Bem te quero brindar, que és boa e bela
Mas confuso e corrido
Venho com as mãos vazias,
Que por esse valado desabrido
Nem bonina singela,
Que ofertar-te, desponta...
A queimada vergôntea
Da combatida esteva
Açoita o furacão: o alvor que neva
Pende entre os ramos secos do arvoredo.
E escarnece com pérfido arremedo
Os seus mortos amores
Que tarde – ai, tarde! – volverão com as flores.

III

E que culpa tenho eu que, esperdiçada
Em dons contigo e com teu doce clima,
Tão pouco me deixasse a natureza,
Tão pouco e minguado?
– Vês: o pobre poeta estropiado,
Velho no coração, velho na rima,
Não tem, na sua pobreza,
Com que te pôr aqui outra memória
De sua boa amizade,
Mais do que um seco ramo de saudade,
Sem flor, sem folhas... todo o viço e glória
Se lhe foi com o inverno desta idade,
Velhice de alma... oh! tão desconsolada,
Tão pior que a do corpo! – descontento
Perene, tão pesado e sem conforto,
E em que, por mor tormento,
Sente a alma ainda – e o coração é morto.
Ramo Seco

(No álbum de uma Senhora Brasileira)

I

No pais doce de Cabra! nascida.
Afeita àquela eterna primavera
Que perpetua a vida
Na folhagem vivaz que não se altera,
Nem conhece as fadigas e a pobreza
De nossa lenta e velha natureza,
Porque, filha mimosa
Da Atlântida formosa,
Porque tão tarde vens, nos tristes dias
De nosso feio Inverno,
Visitar estas praias tão sombrias,
Estas devesas hórridas e frias,
Só povoadas pelo gelo eterno?

II

Bem te quero brindar, que és boa e bela
Mas confuso e corrido
Venho com as mãos vazias,
Que por esse valado desabrido
Nem bonina singela,
Que ofertar-te, desponta...
A queimada vergôntea
Da combatida esteva
Açoita o furacão: o alvor que neva
Pende entre os ramos secos do arvoredo.
E escarnece com pérfido arremedo
Os seus mortos amores
Que tarde – ai, tarde! – volverão com as flores.

III

E que culpa tenho eu que, esperdiçada
Em dons contigo e com teu doce clima,
Tão pouco me deixasse a natureza,
Tão pouco e minguado?
– Vês: o pobre poeta estropiado,
Velho no coração, velho na rima,
Não tem, na sua pobreza,
Com que te pôr aqui outra memória
De sua boa amizade,
Mais do que um seco ramo de saudade,
Sem flor, sem folhas... todo o viço e glória
Se lhe foi com o inverno desta idade,
Velhice de alma... oh! tão desconsolada,
Tão pior que a do corpo! – descontento
Perene, tão pesado e sem conforto,
E em que, por mor tormento,
Sente a alma ainda – e o coração é morto.