O Farol e o Baixel

Como está segura a torre
No meio d''água! não vês?
No cimo a luz da esperança,
O escolho da morte aos pés...

Assim luz amor na vida,
Que é farol de salvação
Assim tem aos pés traidores
O escolho da perdição.

É bonança, e junto à torre
Dorme tranquilo o baixei
Mas quem pôs firmeza em ventos,
Quem teve o mar por fiel?

Na torre ardia o farol,
A onda morta se espelhava:
E o baixel já fatigado
Pela brisa suspirava.

O baixel é novo e lindo,
Velha a torro e desdentada:
Ouvirás o que ela diz
Com a voz cava e rachada:

– Baixelzinho tão ligeiro
Que essa calma impacienta,
Ai! não chames tanto a brisa,
Que pode vir a tormenta.

Tu és uma torre velha,
Aí presa nesse escolho:
Cega todo o dia, apenas
Te acendem de noite um olho.

Que sabes tu do que vai
No imenso campe do mar?
Eu tenho mais fé na vida,
Quero ver, viver e andar.

– Solta pois no mar da vida.
Lindo baixei, solta as velas;
Ventura te assopre os ventos,
Guie-te amor das estrelas!

Mas se ao voltar (na viagem
Da vida, o perigo é voltar)
Te vires perdido... Oh! vem,
Vem a mim, que me hás de achar.