Já não sou poeta

Eu queria apanhar uma rosa
Do um rosa! que já tive no céu,
Quando eu era poeta – e mimosa
Dessas flores que a tantos já deu,
Minha mão punha a coroa ao valer
E prendia em grinaldas amor.

Eu queria apanhar uma rosa
Do rosal que já tive no céu,
Rosa pura, singela e mimosa,
Para a dar a quem tanto a mereceu,
A quem junta ao precioso valor
De alma bela, as mais graças de amor.

Mas não sou já poeta caiu-me
Da cabeça a coroa, o poder:
A inocência do Éden fugiu-me,
Fruto amargo provei do saber...
Sei, perdi-mo... e na triste memória
Nem saudados já tenho da glória.

Bem o vês, o alaúde caiu-me
Destas mãos que não têm já poder:
E o som derradeiro fugiu-me
Do hino eterno que ergui ao nascer,
Ai, por ti, por ti só, à memória
Vêm saudades do tempo da glória!