A Júlia

I

Oh, que suave foi este momento
Que dormi tão feliz, tão descuidado
Andou-me o pensamento
Voando nas delícias do passado,
Requintando o mais puro
Dos gozos que me deste,
Para formar esperanças de um futuro
Mais divino e celeste.

II

E tu, Júlia querida, não dormiste?
Insensível caíste
Nessa tristeza do doçuras cheia
Que as almas como a tua
Tão brandamente enleia
Em acordados sonhos de ventura.

III

Ambos fomos ditosos.
É só dado aos amantes venturosos
Dormir sonos tão doces:
Vêm depois os prazeres despertá-los
Com a alegre travessura
Amor vem acordá-los.
Ele te chama, suspirada amante,
Pela vos da ternura.
Deixa a melancolia:
São tranquilos de mais seus tênues gozos.
No seio da alegria.
Nos braços da ventura,
Vem comigo folgar por estes bosques,
Por entre esta espessura.

IV

Demos demão a sérios pensamentos.
Enquanto o Sol dardeja
Para longe de nós raios de fogo,
Aqui, onde viceja,
As escondidas dele, a Primavera
Com tão frescos verdores,
Cozemos nossos plácidos amores.

V

As dríades sensíveis,
Que dentro desses troncos nos escutam,
Ouçam nossas conversas aprazíveis
As expressões amantes
De dois peitos constantes
Em suas verdes cortiças escrevendo,
Como elas vão crescendo,
Cresçam nossos amores:
E quando, pelas copas remoçadas.
Brotarem novas flores
Nas árvores lembradas
De tão doces momentos,
Serão mais lindas suas lindas cores,
Serão mais engraçadas.

VI

Talvez que a mão de algum amante as colha
Para adornar o seio
Do seu querido enleio
E esse amante dirá: – Júlia a formosa,
Júlia, tão adorada,
Aqui foi venturosa:
Seja feliz como ela a minha amada! –

VII

Assim dirá: e as dríades lembradas
Rirão do voto ufano:
Que elas bem sabem como o deus tirano
Jurando prometera
Que tanto, tanto amor como ao meu dera
Não o poria mais em peito humano.