O Gênio de Píndaro
(De Horácio)

Quem atrevido quer lutar cem Píndaro,
Fia-se em asas que pegou com cera
A arte dedálea – e há de ir dar seu nome
Ao vítreo pego.
Como esse rio que engrossou com a cheia,
E vem do monte, as ribas alagando,
Tal ferve e corre da profunda boca
Píndaro imenso.
Sempre dos louros apolíneos digno:
Ou ditirambos cante em neves termos,
E livre entoe numerosos verses
De regra soltos:
Ou cante os numes, ou reis sangue deles
Que justa morte deram a centauros,
E hórridas chamas apagar puderam
Da atra Quimera:
Ou vá coroando cem os dons das Musas
Os que, vencendo na corrida ou luta,
Ricos das palmas de Élida que cingem
Aos céus se elevam;
Ou sobre a esposa abandonada chore
A quem roubaram o marido jovem,
E áureos costumes e a virtude exalte,
Pragueje o Inferno.
É forte a aura que, em subindo às nuvens
O dirceu cisne, lhe propele os voos,
Eu, meu Antônio, como a abelha humilde
Que afadigada
Por bosque e prados, às ribeiras úmidas
Colhe do Tibur os tomilhos gratos.
Assim a custo meus lidados verses
Componho tímido...