KYRIELEISÃO

A senom Christeleijom.

Egas Moniz

Este é e hino derradeiro
Que, no fim do seu caminho,
Cantava o triste romeiro:

No cansaço e desalinho
Do longo peregrinar
Não sabia já cantar;

Nem as cordas do alaúde
Lhe podiam afinar...

Teimou, e pôs-se a cantar
Este cantar tosco e rude:

À porta santa de Roma
Eu bati com o meu bordão:
O Padre Santo me abria
Dizendo: Kyrieleisão!

Kyrieleisão! – por minha alma,
Que morro som confissão,
Se não digo àqueles olhos
Que me deem a absolvição.

– Absolvição! – aqui tendes;
Tomai-a com devoção:
É uma bula cruzada
Que manda ter compaixão.

Compaixão – minha senhora,
Tende-a de mim, que é razão
O que manda o Santo Padre,
Fazê-lo o fiel cristão.

Cristão! – é este meu peito:
O vosso, infiel pagão!
As indulgências que trago
Não sei se cá valerão...

Valer! – só Deus à minha alma,
Que morre sem confissão!
Senhora, vós, que a matastes,
Dizei-lhe: Kyrieleisão!