Dedicatória

Meu amigo
Volto a oferecer-lhe uma das minhas bagatelas. Chamo assim, para me fingir
modesto, bagatelas a umas coisas que eu reputo no máximo valor Se não
fossem elas, naturalmente eu não chegaria a granjear a estima de V. Exa., que
mas tem lido, e alguma vez louvado. Já V. Exa., antes de me conhecer, quis
encravar a roda do meu infortúnio, roda com que eu estou sempre brincando
como as crianças com os seus arcos. Que tinha eu feito para comover a
benquerença do meu prestante amigo? Tinha feito uns livros futilíssimos, à
imitação deste que lhe ofereço.
Não é esta boa oportunidade de eu vir com a minha oblação de pobre a V.
Exa.. Lembra-me a sentença do nosso Diogo de Teive:
Donat cum egenus diviti Retia videtur tendere.

Os praguentos hão de querer ver aquelas redes, porque não sabem que V.
Exa. já me constituiu, há muito, no dever de eterna e profunda gratidão.

Leça da Palmeira, 27 de Setembro de 1865

CAMILO CASTELO BRANCO