O escolar, o pedante e o dono da quinta
Certo rapaz que andava no colégio
(Um palerma que tinha cão e guizo,
Já pela idade, já p’lo privilégio
Que têm pedantes de estragar o juízo);
Na quinta dum vizinho gatunava
Frutos e flores. Desta quinta o dono,
Dando-lhe na malhada, eis exclamava:
«Diabo de rapazes não têm sono!»
E vai queixar-se ao mestre. Este incha as frases,
E, para dar ensino ao povo inteiro,
Vem cercado dum bando de rapazes,
Que não eram melhores que o primeiro.
Lição mestra quer dar: cita Virgílio
E não sei eu que mais sábios antigos,
Chama grego e latim em seu auxilio...
Tudo por o rapaz ter ido aos figos!
Durou a arenga uma hora: durante esta,
Os rapazes, julgando-se em sua casa,
Saltaram no pomar... foi uma cresta!
Ou, por outro dizer... foi uma rasa!
Embirro co’a científica parola
Que vem fora de tempo e que é secante;
E por mil vezes que o rapaz de escola
E, quanto a mim, o professor pedante!
(***)