O cão que pela sombra larga a presa

Um cão passando ia um rio a nado,
E levava de carne um bom bocado;
Viu n’água a sua sombra, e presumindo
Que era outro cão que dele ia fugindo,
E que presa maior inda levava,
Com fim de lha tirar se arreganhava.
Naquele abrir de boca lhe caia
A carne, e nem mais sombras dela via.

Couto Guerreiro
O doido e a sábio

Um doido, certo dia,
Às pedradas, a um sábio perseguia.
Diz-lhe este: «Amigo, fazes o que deves;
Aqu1 tens um dobrão: justo é que o leves;
Todo o trabalho é digno de salário.
Vês esse homem que passa? É proprietário;
Pode pagar-te bem. Com teus afagos
Vê se o convidas, que serão bem pagos.»
Engodado c’o prémio, o pobre louco
De o outro apedrejar tem o descoco;
Mas possante lacaio acode pronto
E às pauladas desanca o pobre tonto.
Não há no mundo poucos
Desta casta de loucos.
P’ra nos vingarmos deles,
É ter siso instigá-los
A brincarem com aqueles
Que podem com vigor escarmentá-los.

Silva Galão
O lobo pleiteando contra o raposo perante o macaco

Queixou-se uma vez um lobo
De que se via roubado,
E um mau vizinho raposo
Foi deste roubo acusado.

Perante o mono foi logo
O réu pelo autor levado,
E ali se expôs a querela
Sem escrivão, nem letrado.

«À porta da minha fuma,
Dizia o lobo enraivado,
Pegadas deste gatuno
Tenho na terra observado.»

Dizia o réu em defesa:
«Tu, que és ladrão refinado!
O quê? Se vives de roubos,
Podia eu ter-te furtado?

– Furtaste! – Mentes! – Não minto!»
Questões, gritos, muito enfado,
Já do severo juiz
Tinham a testa azoado.

Nunca Témis vira um pleito
Tão dúbio, tão intrincado!
Nem que pelos litigantes
Fosse tão bem manejado.

Mas da malícia dos dois
Instruído o magistrado,
Lhes disse: «Há tempo que estou
De quem vós sois informado:

Portanto, em custas em dobro
Seja um e outro multado,
E tanto o réu como o autor,
Por três anos degredado.»

Dando por paus e por pedras
O mono tinha assentado,
Que sempre acerta o juiz
Quando condena um malvado.

Curvo Semedo
A guerra dos ratos e das doninhas

Esguias doninhas, assim como os gatos,
Têm tal ódio aos ratos,
Que devem talvez
Os míseros bichos aos seus buraquinhos
Não ser, coitadinhos,
Extintos de vez.
Mas um rei dos ratos, amigo de brigas,
Em eras antigas,
Esquece o pavor,
E tropas armando de agudas espinhas,
Promete às doninhas
Dar morte de horror.
Também estas, bravas, bradaram: «À guerra!»
Tremeu céu e terra
Com tal confusão;
E, tendo corrido o sangue em regatos,
Ficaram os ratos
Vencidos na acção.
Foi grande a derrota! Qual deles mais fraco,
O exíguo buraco
Procura encontrar;
E todo o ratinho soldado sem posto
Fugiu que era um gosto,
Podendo escapar.
Mas todos os chefes, de grandes penachos,
Sofreram empachos
Tentando fugir;
E em seus buraquinhos entrar não podendo,
Ai! Foram morrendo
Seu fado a carpir.
Um vulto pequeno num canto se esconde,
Mas raro vê onde
Um grande senhor!
Na rede, a pescada ou chora ou rezinga,
Mas ri-se a petinga
Do seu pescador.

J. I. de Araújo
O gato, a doninha e o láparo

Dona Doninha, em certa madrugada,
Se apossou mui matreira,
Do palácio dum láparo; – acto fácil!
Que estava ausente o dono.
.................................................................
«Que é o que eu vejo, ó numes hospedeiros?»
Diz, da paterna toca,
O láparo esbulhado. «Olá, madama,
Despeje, vá-se! (Moita.)
Ou grito a quanto rato há nos contornos.»
A dama nariguda
Lhe torna que a terra é primi occupantis.
.................................................................
«Sem mais motim, por árbitro, o bichano
Se escolha.» Era ele um gato
Duma vida eremítica e devota,
Dissimulado e sonso,
Alma santa de gato, gordo e nédio,
Grande e terciopeludo,
E, em qualquer caso, julgador esperto.
Por juiz o aceita o láparo.
Ei-los ante a felpuda majestade,
E bichano, que fala:
«Chegai mais perto, ó filhos; que eu sou surdo,
Males, que os anos trazem.»
Chega um, chega o outro, nada receosos.
Logo que os pleiteantes
Viu junto a si, bichano, bom apóstolo,
Finca dum lado e doutro,
Unhas neste e naquele, e põe, mascando-os
De acordo, os demandistas.
Muito este caso quadra c’os debates
Que às vezes têm com outros,
Certos pequenos príncipes, que acodem
Aos reis, que lhos decidam.

Filinto Elísio
O astrólogo

Astrólogo que um dia os astros consultava,
Caiu dum poço ao fundo. Alguém lhe diz: «Sandeu,
Pensas ler o que está escrito lá no céu,
E não viste, sequer, o que a teus pés estava!»

A.
A víbora e a lima

Encontrando uma víbora uma lima,
Em sinal de valor salta-lhe em cima,
E pôs-se a roer nela em muito siso.
A lima não podendo ter o riso,
Lhe dizia: «Que intento é o que trazes?
Que perrice imaginas que me fazes?
Com que roo eu o ferro, e és tão demente,
Que cuidas que me podes meter dente?»

Couto Guerreiro
O rato e o gato

Um gato, um mocho, um rato e uma doninha
Um velho tronco tinham por morada.
De rede armado, um homem se avizinha
E o gato pilha, certa madrugada.

Deste aos gritos, o rato acode pronto
E folga ao ver em laços o inimigo.
O gato ao rato diz: «Conto contigo
Para salvar-me, precioso amigo;

Da rede as malhas rói – e eterna aliança
Te juro desde já; doninha e mocho,
Que mal te querem, meterei na pança!»
O rato: «Eu libertar-te?!... Tó, carocho!»

Quer ao tronco. volver; mas a doninha
Encontra em baixo, e dá c’o mocho em cima.
«Dos males, o menor!», diz ele – e asinha,
Novamente do gato se aproxima.

Da rede as malhas rói uma por uma,
E solta o prisioneiro. Mas pilhados
Pelo homem são – e, logo, onde se suma
Procura cada um dos aliados.

Conseguiram fugir. – Passados dias,
Vê o gato de longe o rato alerta.
«Vem beijar-me!», lhe diz. «Eu?! –
Desconfias? A aliança prometida é mais que certa;

Imaginas-me acaso sem lembrança
De que abaixo de Deus te devo a vida?
– É bem tolo, o outro diz, quem crê na aliança
Que da necessidade foi nascida.»

F. C. Ribeiro do Amaral
«Ne quid nimis»

Criatura não vejo comportar-se
Comedida: e em tudo há um temperillho,
Que o autor da Natureza
Quer que se guarde em tudo.
Quem é que o faz? Ninguém. E que ora seja
Em bem, ou mal, mui pouco assim sucede.
O trigo – rico mimo
De Ceres loura – as jeiras.
Estanca, se é mui basto, e de ordinário
Ao desferir-se, medra em folha inútil,
Medra sobejo, e à espiga
Sonega os alimentos.
Assim das folhas dá contento o luxo
Aos troncos. Mas a fim que emende o trigo,
Deus consentiu que os gados
Agorentem o excesso
De pródiga seara. Ei-los que a esmo
Arremetem c’o trigo e tudo estragam,
Tosando tudo. – Aos lobos
Deu largas, que trincassem
Alguns deles, o céu. – Trincaram todos.
Se o não fizeram, não lhes faltou gana.
O céu disse aos humanos
Que aos últimos punissem:
E o home’ abusou do divinal mandado.
Mais, que todo o animal, pendem os homens
A cair nos excessos.
Revelara pôr pleito
A pequenos, e a grandes. Há vivente
Que em sobejo não pegue? Ne quid nimis
Tema é que anda na baila,
Mas que nunca se observa.

Filinto Elísio
O leão, o macaco e os dois jumentos

Para bem governar, o rei das selvas
Moral ciência quis – e o mono chama,
Em artes mestre da animália gente.
«Grande rei, diz o mono,
Do Estado o zelo preferir vos cumpre
A certo movimento
Amor-próprio chamado. Isto fazendo,
Nunca injusto sereis, nunca ridículo.»
Responde o leão: «De o ser, exemplos dá-me.»
E o mono assim prossegue:
«Toda a espécie (e começo pela nossa)
Trata as outras de resto; a mais perfeita
Se julga sempre. Há dias,
Pela estrada seguindo a dois jumentos
Ouvi esta conversa:
Injusto, meu senhor, não vos parece,
E todo inda por cima – que profanem
Os homens nosso nome, «asno» chamando
A todo aquele que de tino é falto?
– Não só profanam tão augusto nome,
Senhor!, o outro diz. Dum termo abusam,
Que chamam «zurro» nosso riso e falas!
– Parvos!, torna o primeiro. Porventura
Do rouxinol a voz melodiosa
À vossa é comparável? E o segundo:
Há filomela que do vosso canto
Invejosa não seja? – E nisto foram,
Por vilas e cidades,
Alto e bom som gabando-se os dois burros,
Supondo que tão-só por se gabarem
De honrarias coberta a espécie fosse! –
Eis, senhor, do amor-próprio
Exemplo bem frisante.
A seu tempo virá o da injustiça.»
Não veio nunca. – Bem sabia o mono
Ser terrível monarca um rei das selvas!

Alves Teixeira
O corvo arremedando a águia

Vendo um corvo voar com ligeireza
Uma águia, e em um cordeiro fazer presa:
«O que sabe!, dizia; e não eu, que ando
Cadáveres nojentos procurando!»
Pouco tempo depois, viu um carneiro
E saltou-lhe na lá muito ligeiro;
Ali presas as unhas lhe ficaram
De modo que o voar lhe embaraçaram.

Couto Guerreiro
O velho e seus filhos

Um velho, às portas da morte,
Tomou um molho de varas,
E a seus filhos, jóias caras,
Falou-lhes por esta sorte:

«Tendes forças a fartar;
E a todos quero influir
Para estas varas partir
Sem o molho desatar.»

Cheio de resolução,
Tomou o molho o mais velho;
Vergou-o sobre o joelho,
Mas viu que lidava em vão.

O mais novo, pulso forte,
Entra na empresa, arrojado;
Sua por um bom bocado,
E o molho da mesma sorte!

Todos eles, um por um,
Fizeram gemer o solho;
Mas não foi partir o molho
Para as barbas de nenhum.

O velho, com placidez
Logo o molho desatando,
E as varas todas quebrando,
Cada uma por sua vez,

O seu exemplo reforça
Com sentença de áureos brilhos:
«Sede unidos, caros filhos,
A união faz a força.»

J. I. de Araújo
Os dois papagaios, el-rei e seu filho

Dois loiros, pai e filho, dos assados
De Sua Majestade
Faziam seu repasto. Um pai e um filho,
Terrestres semideuses,
Aos dois pássaros tinham por validos.
A idade atava entre eles
Amizade sincera; amavam-se ambos
Os dois pais, e os dois filhos;
E, em despeito do frívolo carácter,
Uns e outros congraçavam-se,
Juntos na criação, juntos na escola.
E que honras para os loiros!
Que era monarca o pai, e o filho príncipe.
Pela índole, que a Parca
Lhes deu, amavam aves. Quinhão tinha
Nas delícias, do príncipe
Um pardal, mui galã, e o mais amante
De toda essa comarca. –
Um dia, que esses dois rivais brincavam,
Como entre crianças se usa,
Passou o jogo a bulha; pouco atento
Fez o pardal colheita
De certas picadelas, que o deixaram
De asa caída e exânime.
Julgaram-no sem cura. Irado o príncipe
Deu morte ao papagaio.
Chega o boato a el-rei. O infeliz velho
Grita e se desespera,
Em vão. Supérfluos gritos! – Já na barca
O bem falante pássaro
De viagem vai. E por melhor dizer-vos,
Da ave, que é morta e muda,
Cobra o pai tal furor, que vai-se ao filho
De el-rei, cava-lhe os olhos,
E põe-se em salvo. Toma por asilo
O cimo dum pinheiro.
Lá, no seio dos numes, quedo e forro,
Saboreia a vingança.
Corre el-rei em pessoa a acareá-lo:
«Torna a palácio, amigo.
Que val’ chorar? Ponhamo-los à porta
O ódio, a vingança, os nojos.
Forçoso é que eu declare (bem que seja
A minha dor bem agra)
Que o agravo de nós vem; que foi meu filho
O agressor. Ruins fados
(Que não meu filho) os criminosos foram.
A Parca tinha escrito,
Em seu livro (eras há) que um filho nosso
Cegasse, e outro morresse.
Consolemo-nos ambos; torna a casa.
– Cuidas, senhor Monarca,
Que, após ultraje tal, em ti me eu fie?
Vens-me alegar c’os fados!
E nessa fé pretendes que eu ao logro,
C’o engodo dessa lábia,
Me entregue? Sejam Fados, Providência
Quem rege do orbe a andança;
No céu ‘stá’scrito que eu no cocuruto
Deste pinheiro, ou cima
Dalgum bosque, findarei meus dias,
Longe do aziago assunto
Que te dê justa causa a fúrias e ódios.

Filinto Elísio
O rendeiro, o cão e o raposo

As galinhas de um rendeiro
Tanto o raposo rondou,
Que uma noite, sorrateiro,
Na capoeira lhe entrôu.

O rendeiro, enfurecido,
Acusa, ao ver-se roubado,
O servo – por ter dormido,
E o cão – por não ter ladrado.

Diz-lhe o cão: «De que te queixas?
Pois queres que eu perca o sono,
Eu que de nada sou dono,
Se tu a dormir te deixas?»

Tinha decerto razão;
Mas... cão era, o desgraçado;
E pelo dono tratado
Por isso foi como um cão!

Pai de família quem for,
Só durma fechando a porta;
E se um negócio lhe importa,
Não tenha procurador.

Luciano Andrade
A rã e o touro

Certa rã viu um touro, e pretendendo
Igualá-lo em grandeza, foi bebendo,
A ver se inchando muito o igualava.
Um filho que loucura tal notava,
Lhe disse: «Minha mãe vai enganada,
Porque à vista de um touro sempre és nada.
Não vás bebendo mais; porque arrebentas
Primeiro que consigas o que intentas.»
A tudo se fez surda; e mais bebia:
Sucedeu como o filho lhe dizia.

Couto Guerreiro
O avarento e o macaco

Em contemplar as dobras que juntava,
Certo avarento a vida consumia;
Mas um mono terrível possuía
Que, da janela, ao mar as atirava.

Quando comparo os gostos de seu dono
E os brincos do macaco – francamente,
Acho o segundo mais inteligente,
E a palma eu não hesito em dar ao mono.

Avelino Abrantes
Sonho dum habitante de Mogor

Certo mogor, há tempos,
Viu um vizir (em sonho),
Nas elísias campinas
Desfrutar um deleite
Puro, quanto infinito
Em valor, como em dura.
O mesmo sonhador
Viu, em dif’rente sítio,
Um ermitão, ardendo
Em circunfusas chamas,
Que entranharia dó
Nos próprios desgraçados.
Desordinário e estranho
Lhe pareceu o caso.
Dava ares, que esbarrara
Minos, nesses dois mortos.
Desperta-se assombrado
O dormidor; suspeita
Contudo ali mistério.
«Não pasmes – disse o intérprete –
Se em sonhos tino eu tenho,
Conceito há no teu sonho.
Aviso há i dos numes.
Enquanto andou no mundo
Esse vizir, às vezes,
A solidão buscava,
Talvez o ermitão ia
Fazer aos vizir’s sala.»
Se eu ao dito do intérprete
Juntar ousasse um ponto,
Inspirara um retiro;
Retiro, que ama o sábio;
Que of’rece aos que bem o amam,
Bens puros, dons, que o céu
Faz, que ante os pés lhe brotem.

Filinto Elísio
O hortelão e o senhor da aldeia

Um hortelão possuía
Horta rendosa e bonita,
Onde uma lebre maldita
Tudo pisava ou comia.

Sendo ruim caçador
O pobre do hortelão,
A reclamar protecção
Corre da aldeia ao senhor.

De servos e cães à frente,
Este lhe acode ligeiro.
Mas do que tratam primeiro
É de almoçar lautamente.

Bebem, riem, pedem beijos
À filha do hortelão,
E as coisas muito não vão
Deste conforme os desejos.

Começa enfim a caçada,
E mais ainda as entorta,
Pois tudo estragam na horta
Sem ser a lebre agarrada!

Bem raro sucede menos
(E às mil as provas se dão)
Quando aos grandes protecção
Pedem sob’ranos pequenos.

Alberto França
Os deuses que se oferecem a instruir o filho de Júpiter

Um filho teve Júpiter,
Que sentindo a alta origem donde vinha,
Dum deus tinha a alma in totum.
Dizem: Nada ama a infância; a do deusinho
Punha o seu mor empenho
Nas doçuras do amar, de agradar todos.
.........................................................................
Mais que sobrado engenho,
Para tudo aprender tinha o menino.
«Quero – dizia Marte,
Eu mesmo ensinar-lhe a arte, que granjeara
As honras deste Olimpo,
A muito herói e a soma dos Celícolas
Nos avultaram.» – Febo
O louro e douto Febo disse: «Eu mestre
Lhe quero ser da lira.»
Alcides leonipele: «Eu, a mim tomo
Mostrar-lhe a domar vícios,
Vencer ímpetos, monstros venenosos,
Que, como hidras, pululam
No peito, sem cessar. De mim aprenda
A ter ódio a branduras,
A delicias; e encete as mil trilhadas
Veredas, que encaminham
As honras, pelo trilho das virtudes.»
Eis chega o deus de Gnido:
«A mim só cabe doutriná-lo em tudo.»
Tinha razão Cupido.
Queira o Engenho agradar, vencerá tudo.

Filinto Elísio
A lebre e a perdiz

No campo, entre matos, que à farta as nutriam,
Contentes viviam
A lebre e a perdiz;
Mas fera matilha de cães aparece,
E toda estremece
A lebre infeliz!
«Pés, para que vos quero!» E quase os desloca
Fugindo prà toca,
Que abrigo lhe dá. –
Os cães atrás dela, seguindo-lhe a pista,
Passaram revista
Aqui e acolá...
Mas, cães de bom faro e de óptima raça,
Disseram: «A caça
Está perto de nós!...
Da fome apertada, esperemos que saia;
Depois, tudo caia
Sobre ela veloz!»
Notando esta cena que à lebre embaraça,
Lhe diz por chalaça
Madama perdiz:
«Tivesses tu asas!... como eu te elevaras,
E então a pregaras
Dos cães no nariz!»
Mas tendo mostrado de siso tal míngua,
Pagou pela língua
(Sucede, sabeis!)
Não vira a pateta que para seus danos,
Havia milhanos
De garras cruéis!

J. I. de Araújo