O mercador, o príncipe, o fidalgo e o pastor
Eram quatro os naufragados:
Um príncipe, um mercador,
Um fidalgo e um pastor.
Dois pares de desgraçados.
Ei-los em terra estrangeira
Mendigando a caridade
E vendo a triste verdade
De não ter eira nem beira!
Mas um dia resolveram
Nunca mais viver de esmolas,
E pondo ao lado as sacolas,
Falaram como entenderam.
«Eu cá – disse o mercador,
Deixo as partidas dobradas
E passo a ensinar criadas
A fazer contas de cor.»
O príncipe, que em consciência
Se achava abaixo da crítica,
Propôs ensinar política,
Coisa que não quer ciência.
O fidalgo estende a mão
E diz: «Não mais privações!
Eu, começo a dar lições
Da grande arte do brasão!
– Muito bem! São uns doutores!
Todos querem ensinar!
Pois eu vou-me a trabalhar,
Que é arte até de pastores!»
E cortando ervas do chão,
Faz-me um feixe, vai vendê-lo,
E ao fim da tarde era vê-lo
Dando aos outros vinho e pão.
E eis como do matemático,
Do fidalgo e do político
Teve razão o analítico,
Que era mais que os outros, prático!
Cipriano Jardim