SONETOS.
Quando Orpheu pela espÔsa suspirada
Desceu co''a maga lyra ao reino escuro,
Incanlado Plutão ferrenho e duro
De júbilo exultou na atroz morada.

Fúrias,'' clamou ''e turba condemnada,
Quero tudo a cantar; do mais não curo.
Ralhe Jove ou não ralhe, cu voto e juro
Que não heide ouvir mais ésta assoada.''

Eis impunhando o açoite crepitante
Rege Megera o condemnado cÔro,
Cantando em doce voz pura e tocante.

Ah! quando te oiço, ó N-y, o som canoro,
E arrebatado attento em teu semblante,
Um milagre d''Orpheu no Averno adoro.

Lisboa -1816.